Dasypus novemcinctus

Nome: tatu-galinha

Texto produzido por Luana Costa.
Aluna de graduação 9ª fase Biologia UFSC.

Outros nomes populares: tatu-folha, tatu-nove-bandas, tatu-veado, tatu-verdadeiro (Superina e Aguiar, 2006 in Silva et al, 2015).

Em tupi guarani: a palavra tatu, de origem tupi ( ta=duro ou escama e tu=escama), poderia ser traduzido como animal de couro duro (Pereira et al., 2003 in Silva; Guazzelli; BagagliI, 2007). Tatueté designa tatu-verdaderiro (eté=verdadeiro) (Dicionário Ilustrado Tupi Guarani).

Reino: Animalia

Filo: Chordata

Classe: Mammalia

Ordem: Cingulata

Família: Dasypodidae

Gênero: Dasypus

Espécie: Dasypus novemcinctus

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Agradecimentos pela imagem cedida pelo website Projeto Tamanduá.

Sobre o tatu-galinha.

Os tatus são parentes próximos dos tamanduás e preguiças, sendo que anteriormente estavam todos agrupados em uma ordem chamada Xenarthra (anteriormente correlacionada como sinônimo de Edentata, sem dentes), mas somente os tamanduás não possuem dentes. As preguiças e os tatus possuem molares rudimentares sem a camada de esmalte, o que faz que esses dentes cresçam continuamente. Sendo assim, não é esta a característica que melhor identifica este grupo. Esse nome Xenarthra refere-se à presença de articulações entre as vértebras, que receberam o nome de xenarthrales (podendo ser traduzido como articulação estranha), que permitem que esses animais fiquem de pé apoiados nas duas patas traseiras e também na cauda. Então esta ordem foi subdividia em duas novas ordens: Cingulata, que é composta pelos tatus e Pilosa que agrupa os tamanduás e as preguiças. (Medri, 2006).

Pode-se distinguir facilmente os tatus das famílias Dasypodidae pela presença de escudos dérmicos, estruturas visualmente semelhantes a escamas que formam uma espécie de carapaça, que cobre a parte dorsal do corpo (parte das costas), cabeça e cauda. Não é atoa que essa carapaça é semelhante a um escudo, ou armadura, ela tem exatamente a mesma função, protegendo o tatu de alguns predadores, além de proteger o corpo do animal da vegetação, enquanto caminha entre os arbustos e galhos caídos. (Medri, 2006).

Algumas espécies de tatus possuem anéis bem evidentes no meio da carapaça, chamados de cintas móveis, que por serem separadas por faixas de pele macia dão maior flexibilidade ao corpo do animal (Emmons, 1990 in Medri, 2006). O tatu-galinha é diferenciado dos demais, além do tamanho (segundo maior de seu gênero), pela quantidade de cintas móveis, que são geralmente 9, originando-se dessa característica seu nome novem-cinctus, porém esse número pode variar tendo apenas 8 ou chegando a ter 10 ou 11. Sua coloração é parda escura, sendo que as escudos dérmicas são mais amareladas, podendo variar de indivíduo para indivíduo esse tom de amarelo. Possuem quatro dedos nos membros anteriores e cinco nos posteriores (Medri, 2006; Silva et al, 2015).

Comprimento do corpo: 39,5 – 57,3 cm

Comprimento da Cauda: 29 – 45 cm

Peso: 3,2 – 4,1kg em média, mas pode chegar a quase 8 kg

Tempo de gestação: 70 – 120 dias

Expectativa de vida: pode chegar a mais de 22 anos. (Silva et al, 2015).

Hábitos

Eles são terrestres e possuem hábitos fossoriais, significa que o animal é adaptado a escavar o solo, e vive normalmente abaixo do mesmo. As tocas, local onde se abrigam, possuem várias entradas e têm aproximadamente 6 metros de comprimento. (Medri, 2006). Para procurar alimento eles vasculham a parte superficial do solo, procurando por baixo das folhas caídas e também revirando o solo e cavando, este comportamento alimentar é chamado de forrageio.

São mais ativos no fim da tarde e também no início da manhã, mas também podem sair a noite (normalmente os adultos), dependendo da temperatura também durante o dia (Mcdonough e Loughry, 2003 in Medri, 2006).

Tatu-galinha, vídeo de autoria de Osvaldo Scalabrini, feito no Mato Grosso do Sul.

Alimentação

Os tatus-galinha alimentam-se principalmente de invertebrados (por exemplo, insetos), mas também podem comer partes de vegetais, como as raízes; pequenos vertebrados; ovos e carniça (animais que já estejam mortos), (Medri, 2006). Os animais que comem diversas coisas são chamados generalistas.

Distribuição e Habitat

Existem 11 espécies de tatus no Brasil, sendo que o Dasypus novemcinctus é o que possui a maior distribuição entre todos os tatus no mundo. Além de ser identificado em todas as regiões e biomas do Brasil, o tatu-galinha é encontrado desde o Sul dos Estados Unidos até uma porção mais ao norte da Argentina e Uruguai (Mcbee e Baker, 1982 in Medri, 2006).

Eles podem ser encontrados em diversos biomas, desdes florestas tropicais, campos e cerrado até ambiente áridos como a caatinga, podendo viver em ambiente de vegetação primária e também em locais degradados e/ou urbanizados (Silva et al, 2015).

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Georreferenciamento de Dasypus novemcinctus. Obtido no website rede speciesLink

Conservação

Devido ao tipo de alimentação esses animais prestam um importante trabalho para o ambiente onde vivem, auxiliando na limpeza e renovação do solo, cavando e misturando a terra com as folhas caídas e também se alimentando de partes dos animais mortos.

Apesar de ser um animal bastante caçado é também comumente vítima de atropelamentos. O tatu-galinha não consta na lista de animais ameaçados de extinção. Acredita-se que isto ocorra porque ele tem uma distribuição muito grande e também porque é um animal que resiste razoavelmente bem a mudanças ambientais (Medri, 2006; Silva et al, 2015).

Além de prejudicial para a conservação desta espécie, a caça destes animais pode trazer um sério risco à saúde de seres humanos, pois segundo Frota et al. (2012), foram encontrados dos Estados Unidos da América até a América do Sul, vestígios de Mycobacterium leprae (agente causador da hanseníase) em amostras de tecidos de D. novemcinctus e de Euphractus sexcinctus (outra espécie de tatu também encontrada no Brasil), o que demonstra que esses animais são também reservatórios desta doença. Segundo os autores ainda não se conhece as possíveis formas de transmissão entre humanos e tatus, porém diversos estudos citados apontam relações entre pessoas infectadas e o contato com a carne e/ou fluidos corporais destes animais, na limpeza, preparo e consumo da carne, tais fatos podem ser responsáveis por infecções de M. leprae em seres humanos (Frota et al., 2012).

Curiosidades

Os tatus do gênero Dasypus são os únicos mamíferos que apresentam um fenômeno chamado poliembrionia monozigótica, significando que o óvulo fertilizado, que normalmente geraria um filhote, obrigatoriamente se multiplica dando origem a vários filhotes idênticos (Mcdonough e Loughry, 2003 in Medri, 2006). No caso de Dasypus novemcinctus são gerados normalmente quadrigêminos, ou quatro filhotes. (Nowak, 1999 in Medri, 2006).

As fêmeas dessa espécie possuem a habilidade de reter óvulos, podendo assim atrasar o início de sua gestação ou implantação do óvulo no útero, por bastante tempo (Parera, 2002 in Medri, 2006).

Os tatus, na sua maioria, possuem muitos pequenos dentes, que crescem sempre, ao longo da vida do animal (crescimento contínuo), porém eles não possuem esmalte, que é a substância que reveste os dentes (Talmage; Buchanan, 1954; Vaughan et al., 2011 in Alves, 2016) por esse motivo apresentam um maior desgaste nos dentes, o que é bom, já que os mesmos crescem continuamente.

Referências

Agradecimentos a equipe do Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás do Brasil, pela colaboração. http://tamandua.org/2016/index.html. Acesso em: 22/09/2016.

Agradecimentos ao website INCT- Herbário Virtual da Flora e dos Fungos.

Alves, L. da S.. 2016. Descrição anatômica das estruturas osteoarticulares do esqueleto axial do tatu-galinha (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) por meio da radiografia e tomografia computadorizada. Botucatu. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia.

BARBOSA, F. H. 2002. Caracterização molecular de isolados de Paracoccidioides brasiliensis obtidos de Dasypus novemcinctus (tatu) e sua correlação com virulência e origem geográfica. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina de Botucatu, 2002. Disponível na biblioteca Vérsila: http://biblioteca.versila.com/2547674.

Diicionário Ilustrado Tupi Guarani. Disponivel em: <http://www.dicionariotupiguarani.com.br/>. Acesso em: 20 jul. 2016.

FROTA, C. C. et al. 2012. Mycobacterium leprae in six-banded (Euphractus sexcinctus) and nine-banded armadillos (Dasypus novemcinctus) in Northeast Brazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro , v. 107, supl. 1, p. 209-213. Access on 04 Sept. 2016. Disponível biblioteca Vérsila: http://biblioteca.versila.com/3670847.

MEDRI, Í. N,; MOURÃO, G. de M.; RODRIGUES, F. H. G. (Ed.). 2006. Ordem Xenarthra. In: REIS, N. R. et al. Mamíferos do Brasil. Londrina. Cap. 4. p. 72-74.

SILVA, K. F. M.; COSTA, J. F.; ANACLETO, T. C. S. & Timo, T. P. C.. 2015. Avaliação do Risco de Extinção de Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758 no Brasil. Processo de avaliação do risco de extinção da fauna brasileira. ICMBio. http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/lista-de-especies/7106-mamiferos-dasypus-novemcintus-tatu-galinha.html. Acesso em: 14 maio 2016.