Cyclopes didactylus

                                                                                                                                                                                                            Escrito por Luana Costa.
Aluna da 9ª fase do curso de Biologia da UFSC.

 

Nome: tamanduaí

Outros nomes populares: tamanduá-cigarra, tamanduá-seda (Miranda et al, 2015)

Reino: Animalia

Filo: Chordata

Classe: Mammalia

Ordem: Pilosa

Família: Cyclopedidae

Gênero: Cyclopes

Espécie: Cyclopes didactylus

                                                                                  Imagem cedida pelo website Projeto Tamanduá.

 

Sobre o tamanduaí

O tamanduaí é um pequeno animal, pertencente a ordem Pilosa. Antigamente tamanduás, preguiças e tatus pertenciam todos a ordem Xenarthra. Mas, para um melhor entendimento do que realmente classifica os indivíduos dessa ordem optou-se por subdividir a ordem Xenarthra em duas outras: Pilosa para tamanduás e preguiças e Cingulata para tatus. Pois, antigamente entendia-se Xenarthra como Edentata, ou seja sem dentes, mas já se é sabido que somente tamanduás não possuem dentes, sendo que as preguiças e tatus possuem molares e pré-molares simples e com ausência de esmalte. Decompondo-se o nome Xenarthra temos: xenon que significa estranho e arthros traduzida como articulação. Essas articulações estranhas estão presentes entre as vértebras destes animais e recebem o nome de xenarthrales, que permitem que esses animais fiquem de pé apoiados nas duas patas traseiras e também sobre a cauda. Apesar de ter sido desmembrado o táxon Xenarthra ainda é bastante utilizado na literatura, passando a ser visto como uma superordem. (Medri, 2006; Miranda, 2015).

Não possui uma pelagem longa, porém essa é bastante densa e de coloração clara, amarelada com partes acinzentadas e listras escuras em indivíduos encontrados mais ao sul da América e apesar de ser uma espécie de fácil identificação, devido a suas características, ela raramente é avistada na natureza, sendo assim uma espécie críptica, que significa que as cores da sua pelagem se misturam com as cores das folhas e troncos nas copas das árvores criando uma camuflagem (Dickman, 1984 e Emmons, 1990 in Medri, Mourão e Rodrigues, 2011).

Esses animais possuem uma cauda grande, sem pêlos na parte inferior (ventral), e preênsil (ou seja, a cauda aguenta todo o peso do seu corpo, podendo o tamanduaí ficar totalmente apoiado nela), para locomoção, captura de alimentos e utilizada para se prender a galhos de árvores (Nowak, 1999 in Miranda et al., 2015). Apresentam duas longas garras nas patas anteriores (segundo e terceiro dedos), enquanto que nas patas posteriores possuem quatro garras (Emmons, 1990 in Miranda, 2015)

 

Comprimento do corpo: 15 – 23, 35 (subpopulações do nordeste) cm

Comprimento da Cauda: 16 – 30cm

Peso: raramente ultrapassam os 400g

(Miranda et al., 2015; Medri, Mourão e Rodrigues, 2011)

 

Hábitos e Alimentação

São animais noturnos, que passam a maior parte da vida em árvores (arborícola) raramente descendo ao chão (Medri, Mourão e Rodrigues, 2011). Além da cauda preênsil, o tamanduaí tem outra adaptação para a vida arbórea, ele se utiliza de junções nos pés que possibilitam que suas garras se desloquem para trás, aderindo-se melhor aos galhos (Dickman, 1984 in Medri, Mourão e Rodrigues, 2011).

O tamanduaí é a menor espécie de tamanduá e sua alimentação é constituída basicamente por formigas, encontradas em caules das árvores e hastes de trepadeiras, porém essa espécie também pode se alimentar de besouros (Best e Harada, 1985 in Medri, Mourão e Rodrigues, 2011). Estas adaptações morfológicas são basicamente constituídas por um focinho e língua longos e garras e músculos desenvolvidos nos membros anteriores, que servem para chegar até seu alimento e também para sua defesa. Quando se sente ameaçado prende-se ao galho com a cauda e a patas posteriores mantendo os membros dianteiros livres e as garras à mostra (Medri, Mourão e Rodrigues, 2011).

 

Distribuição e Habitat

Além de serem encontrados em diversas localidades na região norte (amazônia e parte norte do cerrado) e em um local restrito da região nordeste do Brasil (mata atlântica) (Fonseca et al., 1996 e Silva et al., dados não publicados in Medri, 2006), os tamanduaís também possuem uma ampla distribuição na América Latina, podendo ser encontrados em algumas regiões do México, dos Andes, do Equador, da Bolívia, entre outros (Werzel, 1982, 1985 in Medri, Mourão e Rodrigues, 2016).

Esta espécie é encontrada em florestas tropicais, até os 1500m de altitude, pois possuem uma baixa taxa metabólica e temperatura corporal (por volta dos 33ºC), não são encontrados em maiores altitudes ou ambientes com maior variação de temperatura (McNab, 1985 in Miranda et al., 2015).

 

 

 

 

 

Mapa com a região de distribuição de Cyclopes didactylus no Brasil. Obtido no website do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

 

Conservação

Estes animais podem comer de 700 a 5000 formigas por dia, estes números variam de acordo com a idade e sexo do indivíduo (Nowak, 1999 in Medri, Mourão e Rodrigues, 2016). Por este motivo essa espécie pode ser bastante importante para a manutenção do equilíbrio ecológico, controlando as populações de formigas dentro dos seus respectivos ecossistemas.

No momento, o tamanduaí não está categorizado como correndo risco de extinção, já que apresenta uma grande distribuição geográfica. Acredita-se que mantenham populações grandes e estáveis. Porém existem comunidades no nordeste que necessitam de uma maior atenção, já que seu habitat (mata atlântica) está sendo ameaçado, principalmente pela substituição deste bioma por plantações de cana-de-açúcar, gerando uma grande fragmentação da mata e consequentemente o isolamento de pequenas populações destes animais, ameaçando assim sua sobrevivência. (Miranda et al., 2015). Além do desmatamento, o tráfico ilegal é uma das principais ameaças desta espécie, isto ocorre porque algumas pessoas criam esses animais como de estimação, porém eles não costumam viver por muito tempo em cativeiro (Emmons, 1990 in Miranda et al., 2015).

https://www.youtube.com/watch?v=Ol09VeapoJA

Entrevista com a veterinária Flávia Regina Miranda, Repórter Eco 20 anos

Curiosidades

A gestação dos tamanduaís pode durar de 120 a 150 dias e “ao contrário dos tamanduás em que apenas a fêmea realiza o cuidado parental, nos tamanduaís ambos os pais cuidam dos filhotes, sendo que o macho pode carregar o filhote no dorso e regurgitar alimento para a sua cria.” (Messias-Costa et al., 2001 e Nowak, 1999 in Medri, Mourão e Rodrigues, 2011). Outra diferença entre o cuidado parental dos tamanduaís e os demais tamanduás é que durante o período noturno, quando saem para buscar alimento, os filhotes não são carregados nas costas pelos pais, eles ficam escondidos nas árvores em que passaram o dia, sendo que essa árvore costuma ser trocada frequentemente (Montgomery, 1983 in Medri, Mourão e Rodrigues, 2016).

 

Referências

Agradecimentos a equipe do Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás do Brasil, pela colaboração. http://tamandua.org/2016/index.html. Acesso em: 22/08/2016.

 

MEDRI, Ísis Meri; MOURÃO, Guilherme de Miranda; RODRIGUES, Flávio Henrique Guimarães. Ordem Pilosa. In: EIS, N Elio R Oberto dos R et al (Ed.). Mamíferos do Brasil. 2. ed. Londrina: Edição do Autor, 2011. Cap. 4. p. 71-77.

 

Miranda, F.R.; Chiarello, A.G.;Röhe, F.; Miranda, G.H.B. & Vaz, S.M. 2015.Avaliação do Risco de Extinção de Cyclopes didactylus (Linnaeus, 1758). Processo de avaliação do risco de extinção da fauna brasileira. ICMBio. http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/lista-de-especies/7126-mamiferos-cyclopes-didactylus-tamandua-i

 

Paglia, A.P.; Fonseca, G.A.B.; Rylands, A.B.; Herrmann, G.; Aguiar, L.M.S.; Chiarello, A.G.; Leite, Y.L.R; Costa, L.P.; Siciliano, S.; Kierulff, M.C.M.; Mendes, S.L.; Tavares, V.C.; Mittermeier, R.E. & Patton, J.L. 2012. Lista anotada dos mamíferos do Brasil. 2ª Edição. Occasional Papers in Conservation Biology, 6: 1-76.

Museum of Comparative Zoology (HU-Zoo), Museum of Vertebrate Zoology – Brazilian records (MVZ_BR), NMNH Extant Specimen and Observation Records (NMNH-Animalia_BR), Zoneamento Ecológico Econômico do Acre – Mammalia (ZEE_MAM) disponível na rede speciesLink (http://www.splink.org.br) em 31 de julho de 2016 às 23:46.