Canjerana

Cabralea canjerana (Vell.) Mart.

Divisão: angiospermas.
Família: Meliaceae

Cabralea canjerana
Flora digital do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Fotógrafo — Cassio Rabuske da Silva. RS, Antônio Prado, propriedade rural no município de Antônio Prado, RS.

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Sinonímia botânica: Cabralea brachystachya C. DC., Cabralea oblongifoliola C. DC., Cabralea rojasii C. DC., Trichilia canjerana Vell. (Mobot, 2006).

Nomes populares: canjarana, canjerana, canjerana-de-prego, cajarana, canharana (SC), cedro-canjerana, pau-de-santo, caierana, canjarana-do-litoral, cajá-espúrio (Lorenzi, 2000).
Tupi-guarani: canjerana vem de acauá (cajá) e rana (falso), (Klein, 1984).

Ocorrência: Norte (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Tocantins), Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe), Centro-oeste (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo), Sul (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina)*.

 

Cabralea canjerana-estados

INCT — Herbário virtual da flora e dos fungos — Cabralea canjerana georreferenciadas*.

 

Domínios fitogeográficos: ocorre na amazônia, caatinga, cerrado e mata atlântica*.
Tipos de vegetação: caatinga (stricto sensu), cerrado (lato sensu), floresta ciliar ou galeria, floresta estacional decidual, floresta estacional semidecidual, floresta ombrófila (=floresta pluvial)*.

Características:

Forma biológica: caducifólia, significa que as folhas desta árvore caem (folhas caducas) quasetotalmente ou totalmente na estação climática desfavorável à planta.
Altura: 20-30 metros (Carvalho, 2003).
Tronco: é cilíndrico, reto ou geralmente tortuoso. Com raízes tabulares (Marques, 2007).
Casca externa ou ritidoma: a casca externa é castanho a cinza-escuro, com fissuras longitudinais pouco profundas, formando placas ou escamas retangulares irregulares de 2 a 5 cm de largura (Ivanchechen,1988 in Carvalho 2002).
Alburno: é de coloração branca ou róseo-avermelhada e o cerne de castanho a vermelho escuro.
Ramificação: dicotômica ou cimosa, significa que o tronco forma bifurcações. Com copa larga e arredondada.
Folhas: são folhas compostas, ou seja o limbo se subdivide formando dois ou mais pares. Elas se apresentam uma de cada lado (opostas) e terminam sempre com um número par na extremidade da folha (paripenada) com 30 a 90 cm de comprimento e 10 a 20 pares de folíolos (é a denominação de cada unidade que compoem uma folha composta) com até 15 cm (Carvalho, 2003).
Inflorescência (conjunto de ramificações que terminam em flor): na canjerana a inflorescência tem um eixo principal que se alonga e produz vários outros eixos laterais (tirsos axilares) e todos terminam com uma flor (cimosos). Podem medir de 6 a 25 cm de comprimento.
Flores: hermafroditas, significa que são flores que possuem os dois sexos na mesma flor, com coloração branco-esverdeada, pequenas e aromáticas.
Fruto: é uma cápsula subglobosa ou elipsóide, ou seja tem a forma mais ou menos oval com ápice arredondado e base estreitada de cima para baixo…, ficando enrugada e marrom-escuro quando seca, com ou sem lenticelas ( proeminentes; deiscência septífraga, com cerca de 1,8 a 4,3 cm de diâmetro se fechado, e 6 cm se aberto. O fruto possui o epicarpo vermelho-escuro quando maduro; possui um látex branco e pegajoso. Os frutos contém de 1 a 10 sementes, reunidas em diásporos de 1 ou 2 sementes em cada lóculo. Cada fruto pesa, em média, 15,54g. (Eibl et al., 1994 in Marques, 2007, p 81).
Sementes: são ovóides (forma oval) com 6 a 17 mm de comprimento e 6 mm de largura; quando maduras, são envolvidas por um tegumento arilóide (estrutura carnosa), vermelho-alaranjado, de origem funicular, macio, carnoso, que libera uma secreção leitosa. (MARQUES, 2007, p. 81).

Período de floração: de setembro a outubro (Lorenzi, 2000).

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

Período de frutificação: agosto a novembro, (Lorenzi, 2000).

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

 

Biologia reprodutiva:

Sistema sexual: planta hermafrodita (é uma árvore que possui os órgãos masculinos e femininos na mesma flor) ou dióica (é uma árvore cujos sexos masculinos e femininos estão em árvores separadas). Portanto, a canjerana é uma árvore que apresenta mais de um sistema sexual na natureza.
Vetor polinização (diz-se do agente que fecunda a flor, e desta nascem os frutos): mariposas (falaenofilia).
Dispersão dos frutos: feita por animais (zoocórica) principalmente aves atraídas pela cor do arilo alaranjado do fruto. Alguns mamíferos como o mono-carvoeiro se alimentam do fruto (Lorenzi, 1992; Moraes, 1992 in Carvalho, 2002).

Produtos e utilizações:

Matéria tintorial: da casca é extraído um corante vermelho utilizado no tingimento de pelegos (pele de ovelha curtida que fica entre o cavalo e a sela).
Óleos essenciais: Ocoticol (Gottileb e Mors, 1980 in Marques, 2007).
Perfumaria: das flores extraem-se substâncias para perfumes.
Inseticida: o suco dos frutos tem ação inseticida, podendo, portanto, ser tóxico aos animais se ingerido (Carvalho, 2002). Está sendo testado a utilizaçao do suco de Cabralea canjerana como inibidor do crescimento das largas da mosca-das-frutas-sul-americana, conhecida como Anastrepha fraterculus e da lagarta-do-cartucho-do-milho, conhecida como Spodoptera frugiperda, que são pragas para a produção agrícola da América do Sul (Magrini, 2011).
Apícola: a canjerana produz flores melíferas (RAMOS et al., 1991). Produzindo pólen e néctar (REIS et al., 1992).
Medicinal: na medicina caseira, é utilizada como poderoso reconstituinte dos estados anêmicos. Do suco da casca do tronco faz-se um chá que combate doenças de pele, diarréias, prisão de ventre, febres e hidropisia (edema). Outros usos medicinais como chá da casca são: adstringente, fortificante, purgativo, antidispéptico, antitérmico e emético, e também em ferimentos e inflamações dos testículos (Klein, 1984). Os índios de várias etnias do Paraná e Santa Catarina utilizam as sementes e cascas no tratamento de micoses, meningite, dores de cabeça, primeiro banho do bebê e prevenção da hipotermia (Marquesine, 1995). Em tribos Kaiowá e Guarani eles indicam para feridas de animais (Bueno, 2005). Também já foi avaliada atividade antitumoral dos triterpenos damaranos cabraleadiol e ocotilona extraídos de extrato etanólico de frutos de Cabralea canjerana, onde o cabraleadiol foi três vezes mais ativo do que ocotilona na inibição do crescimento celular de adenocarcinoma da mama e câncer das células do pulmão, evidenciando as propriedades farmacológicas desta planta, a qual já é conhecida pelos Guaranis na medicina indígena (Cazal et al., 2010 in Magrini, 2011).
Outras utilizações: pode ser usada em paisagismo. É indicada também para recomposição de mata ciliar. A madeira é de excelente qualidade, podendo ser utilizada para palanques, construção civil e naval, canoas, taboado de forro e assoalho, móveis, escultura, artesanatos, marcenaria, torno, esteios, bolandeiras, arados e rodas de engenho e carros (Carvalho, 2003).

Referências:

1 Agradecimentos: ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Herbário Virtual da Flora e dos Fungos (INCT-HVFF) que conta com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

BUENO, N. R.; CASTILHO, R. O.; COSTA, R. B.; POTT, A.; POTT, V. J.; SCHEIDT, G. N.; BATISTA, M. S. 2005. Medicinal plants used by the Kaiowá and Guarani indigenous populations in the Caarapó Reserve, Mato Grosso do Sul, Brazil. Acta Botânica Brasilica

Cabralea canjerana disponível em: INCT – Herbário Virtual da Flora e dos Fungos (http://www.splink.org.br) em 28 de Março de 2016 às 14:56.

CARVALHO, P. E. R. Circular técnica no 67. 2002. Ministério agricultura, pecuária e abastecimento. Colombo, PR. Acesso em 17 de março de 2016. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/307847/1/CT0067.pdf.

CARVALHO, P. E. R. 2003. Espécies arbóreas brasileiras. Brasília: Embrapa informação tecnológica. Colombo/PR: Embrapa florestas. 1.039 p.

FELIPPI, M; ARAÚJO, M. M.; LONGHI, S. J. 2015. Morfologia da flor, fruto, semente, plântula e muda de Cabralea canjerana (Vell.) Mart. Revista Cerne, v. 21, no 3, p. 387-394.

KLEIN, R.M. Meliáceas. Itajaí: Herbário Barbosa Rodrigues, 1984. 138p. Disponível em: http://www.hbr.org.br/fic/HBR_8410.pdf. Acessado em 10/Mar/2016.

MAGRINI, F. E. 2011. Atividade Biológica de Extratos de Cabralea canjerana Sobre Anastrepha fraterculus e Spodoptera frugiperda. Dissertação (mestrado) Universidade Caxias do Sul. Programa de pós-graduação em biotecnologia.

MARQUES, T. P. 2007. Subsídios à Recuperação de Formações Florestais Ripárias da Floresta Ombrófila Mista do Estado do Paraná, a Partir do Uso Espécies Fontes de Produtos Florestais Não-madeiráveis. Universidade Federal do Paraná. Curitiba. 244 p. Disponível em: <http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/14027/dissertação Themis Piazzetta Marques PDF.pdf>.

*Meliaceae in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB9988>. Acesso em: 11 Mar. 2016.

PEREIRA, A. B.; PUTZKE, J. 2010. Dicionário brasileiro de botânica. Curitiba/PR. Editora CRV.

REGO, F. L. H. et al. 2010. Recursos genéticos, biodiversidade, conhecimento tradicional Kaiowá e Guarani e o desenvolvimento local. Interações, Campo Grande, v. 11, n. 1, p. 55-69,

STEFANO, M.V.; CALAZANS, L.S.B.; SAKURAGUI, C.M. 2016. Meliaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponivel em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB162>.

STEHMANN, R. et al. 2009. Plantas da floresta atlântica. Rio de Janeiro: Jardim botânico do Rio de Janeiro, 515 p. Em: <http://www.jbrj.gov.br/publica/livros_pdf/plantas_floresta_atlantica.zip>.