Embaúba

Cecropia glaziovii Sneth.

Divisão: angiospermas.

Família: Urticaceae.

Cecropia glaziovii
Flora digital do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Fotógrafo — Marti Molz. RS,Sapiranga, Pedra Branca, na subida do Morro Ferrabraz.

Nomes vulgares: embaúba. árvore-da-preguiça, embaúba-vermelha, imbaúba, pau-de-lixa e pau-formiga.
Tupi-guarani: embaúba vem de ambay que significa árvore de tronco oco.

Ocorrência: Nordeste (Bahia), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo), Sul (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina)*.

Cecropia glaziovii Sneth

INCT — Herbário virtual da flora e dos fungos –– Cecropia glaziovii georreferenciadas*.

Domínio fitogeográfico: mata atlântica*.
Tipo de vegetação: floresta estacional semidecidual, floresta ombrófila (= floresta pluvial), floresta ombrófila mista*.

Características:

Altura: aproximadamente 18 m (Carvalho, 2010).
Forma biológica: é uma árvore que permanece com folhas durante todo o ano (perenifólia), embora folhas mais velhas caiam, sempre há novas surgindo, mantendo a árvore com copa verde.
Formato da copa: os vários ramos que partem do caule principal conforme crescem atingem a mesma altura na formação da copa da árvore (corimbiforme), em outras palavras assemelha-se a um candelabro.
Ramificação: é o tipo de árvore que apresenta um eixo principal (fuste) bem definido, ficando os ramos concentrados mais no topo da árvore (racemosa ou monopodial). Os ramos podem ser lisos (glabros) ou apresentarem pêlos (pubescentes).
Tronco: é reto, cilíndrico e possui um canal central alongado e oco por dentro (fistuloso) dividido por septos transversais (Carvalho, 1994 in Mendonça, 2004). Podendo ou não ter raízes adventícias. Essas raízes lembram escoras.
Casca externa: a casca externa (ritidoma) é lisa, apresentando várias cicatrizes das folhas que já caíram.
Casca interna: alburno e o cerne são de cor esbranquiçada.
Folhas: são simples (único limbo) e grandes, contendo de 8 a 12 segmentos ou lobos (dedos), medindo de 25 a 80 cm de diâmetro quando adulta. Possui na face superior (face adaxial) pêlos quase transparentes (pubérula) e na face inferior (face abaxial) uma penugem visível (pubescente). Apresenta nervuras secundárias, retas. O pecíolo (parte que liga a folha ao ramo) apresenta penugem visível (pubescente) e chegam a medir até 80 cm. Observa-se a presença de apêndice laminar pequeno (estípula) de cor pardo-avermelhado na base da folha. As folhas ficam concentradas nas partes terminais dos ramos.
Inflorescências (conjunto de ramificações que terminam em flores): a embaúba apresenta inflorescências do tipo amentilhos. Esses amentilhos estão unidos por um mesmo pedúnculo (estrutura que conecta os amentilhos ao caule) inserido no vértice da folha e são caracterizados por serem pêndulos e por possuir uma ráquis central com milhares de minúsculas flores unissexuais muito pequenas (inconspícuas), sem pétalas, nem pedicelos (estrutura que conecta a flor a ráquis) numa longa estrutura estreita e cilíndrica. Inicialmente eles nascem envolvidos por uma espata (bráctea) de cor vinácea. Essa espata chega a medir 22 cm. As inflorescências da planta masculina são chamadas estaminadas (diz-se da flor que possui estames). Os estames são formados de antera e filete. Na antera estão os grãos de pólen. As femininas são chamadas pistiladas (diz-se da flor que possui pistilo). O pistilo é formado pelo ovário, estilete e estigma.
Flores: são unissexuais (ou seja a flor é feminina ou a flor é masculina) e sésseis (significa que essas flores não tem pedicelo. Parecem estarem coladas na ráquis). As flores estaminadas (flores masculinas) apresentam perianto pubescente (conjunto de cálice e corola) e as pistiladas (flores femininas) perianto carnoso.
Infrutescências: são cilíndricas constituída de muitos frutos fundidos de textura carnosa e sabor adocicado quando adulto. (Lorenzi, 1998).

Período de floração: de agosto a dezembro (Lorenzi, 1998).

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

Período de frutificação: novembro a fevereiro (Lorenzi, 2009).

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

Biologia reprodutiva:

Tipo de reprodução: árvore dióica, ou seja as flores femininas e masculinas estão em indivíduos separados, portanto há uma planta masculina e uma planta feminina.
Tipo de fecundação: anemocórica (feita pelo vento). Os grãos de pólen são levados pelo vento da planta masculina para a feminina. Essa que possui ovário, será fecundada e dará origem aos frutos (infrutescência). As sementes desses frutos, serão espalhadas pelas aves e animais dando origem a novas embaúbas, ora femininas ora masculinas.
Tipo de dispersão (que é a forma como as sementes são espalhadas na floresta): zoocórica, ou seja feita por mamíferos. aves, morcegos.

Algumas pesquisas mostram a grande diversidade desses animais como a descrita a seguir por Mendonça, 2004 “As espécies registradas alimentando-se de frutos de Cecropia glaziovii durante o período diurno foram: tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus), macaco-prego (Cebus apella), tucano-de-bico-preto (Ramphastos vitellinus), aracuã (Ortalis guttata), gralha-azul (Cyanocorax caeruleus), picapau-de-cabeça-amarela (Celeus flavescens) e quati (Nasua nasua). Durante o período noturno foram registrados: morcego (Artibeus sp.) e gambá (Didelphis aurita)”. Mas, muitos outros animais se beneficiam da embaúba como os Tamanduá tetradactyla pois é atraído para se alimentar das formigas, ou até mesmo as preguiças que se alimentam das folhas inclusive é este o motivo da árvore ser chamada árvore-da-preguiça.
Agentes dispersores das sementes: aves, marsupiais, macacos, quati, gambás e morcegos.

Uso medicinal:

“Na medicina popular as plantas do gênero Cecropia são utilizadas para as seguintes indicações terapêuticas: diurética, tônica, anti-hemorrágica, adstringente, emenagoga, antidisenterica, anti-asmática, anti-tussigena, anti-gonorreica, vermifugo, anti-leucorreia, combate a amenorréia, dismenorreia, coqueluche, afecção respiratória, cardio-pulmonar, cardio-renal, taquicardia, bronquite, anuria, tuberculose, homoptise rebelde, curativos das feridas, dispneias (Carvalho, 1994; Pio Corrêa, 1969 in Mendonça, 2004), sendo praticamente utilizadas todas as partes do vegetal no tratamento fitoterápico, casca, raízes, folhas, brotos e flores (Hashimoto, 2002). Do ponto de vista farmacológico, as propriedades hipotensoras de extratos obtidos a partir das folhas de Cecropia glaziovii já foram comprovadas (Rocha et al., 2002). No Programa de pesquisas de plantas medicinais, desenvolvido pela CEME, existem cinco medicamentos em condições de produção industrial, dentre os quais aquele produzido a partir de Cecropia glaziovii” (Ferreira, 2002 in Mendonça, 2004).

Portanto, além da embaúba cuidar das formigas Aztecas, da saúde dos seres humanos e de servir de alimento a muitos animais, ela atua na restauração de clareiras, possibilitando que a floresta se regenere de forma sustentável. Só é sustentável no tempo na medida em que a retirada de um número de indivíduos (ou partes destes), a cada ciclo de exploração, puder ser reposta pelo próprio dinamismo da espécie (Reis et al., 2002 in Mendonça, 2004). A embaúba é uma árvore fantástica.

Outras utilizações: a madeira de Cecropia spp. é muito leve, empregada para confecção de flutuadores, jangadas, salto de calçados, brinquedos, lápis, palito de fósforo, aeromodelismo, forros, pólvora e pasta celulósica. As folhas são ásperas, como lixas, que se empregam para polir madeira, e a casca é dotada de fibras muito resistentes utilizada para a confecção de cordas rústicas (Pio Corrêa, 1969 in Mendonça, 2004).

Sobre a embaúba:

Cecropia glaziovii são árvores muito importantes do ponto de vista alimentar para um grande número de animais como macacos, aves, morcegos os quais se alimentam de seus frutos e também para as preguiças que se alimentam de suas folhas. As embaúbas necessitam de muita luz (heliófitas), por este motivo é encontrada principalmente em bordos de matas, ao longo de estradas e trilhas e em clareiras antrópicas, também chamadas clareiras naturais. Essas clareiras ocorrem quando uma árvore qualquer morre dentro da mata e cai espontaneamente. Tal fato, porém, não ocasiona um desequilíbrio ecológico, pois proporciona oportunidade para que outras espécies surjam. As primeiras plantas que surgem (pioneiras) são gramíneas e samambaias terrestres. Esse estágio dura aproximadamente 06 anos. Somente após, começam a nascer as primeiras embaúbas, que levarão de até 10 anos para ficarem adultas (website: Apremavi).

Outra característica sobre as embaúbas é que são árvores mirmecófitas (vivem em associações simbióticas com formigas), ou seja, no interior de seu tronco oco vivem colônias de formigas do gênero Azteca. A interação Cecropia-Azteca para alguns autores é considerada mutualística (que uma relação onde amabas as partes se beneficiam), onde em troca de abrigo e alimento (corpúsculos mullerianos), as formigas protegem as embaúbas contra herbivoria (ataque de insetos que irão destruir as folhas) e contra plantas trepadeiras. (Janzen, 1969; Vasconcelos & Casimiro, 1997 in Mendonça, 2004).

Descrevendo mais sobre os Corpúsculos Mullerianos, eles são estruturas ricas em glicogênio, produzidas em regiões pilosas presentes nas axilas das folhas, denominadas triquílias (Gonsales et al. 2002). Curiosamente até onde se sabia somente agentes de origem animal poderiam produzir glicogênio, mas a embaúba também tem essa capacidade de produzi-lo para as formigas.

Referências:

¹Agradecimentos ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Herbário Virtual da Flora e dos Fungos (INCT-HVFF) que conta com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

*Cecropia in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB15039>. Acesso em: 15 Mar. 2016

Cecropia glaziovii: disponível no INCT – Herbário Virtual da flora e dos fungos (http://www.splink.org.br) em 01 de Fevereiro de 2016 às 14:21.

COSTA, G. M.; SCHENKEL, E. P.; REGINATTO, F. H. 2011. Chemical and Pharmacological Aspects of the Genus Cecropia. Natural Product Communications, v. 6, n. 6, p. 913-920. Acessado em 10/12/2015. Disponível em: <https://www.researchgate.net>.

GONSALES, E. M. L. 2002. Controle da estrutura de colônias de formigas Azteca alfari (Hymenoptera, Formicidae) pela mirmecófita Cecropia purpurascens (Cecropiacea). In Jansen Z, Venticinque E. Curso de campo ecologia da floresta amazônica. Manaus, INPA, 122 p. Disponível em: <http://pdbff.inpa.gov.br/cursos/efa/livro/efa2002_1.pdf#page=12>.

LORENZI, H. 1998. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Vol. 02. Nova Odessa/SP. Editora Plantarum.

MENDONÇA, E. N. 2004. Aspectos da autoecologia de Cecropia glaziovii snethl. (Cecropiaceae), fundamentos para o manejo e conservação de populações naturais da espécie Florianópolis. SC. Dissertação: programa de pós-graduação em biologia vegetal. Departamento de botânica. Centro de ciências biológicas. Universidade Federal de Santa Catarina. 78 p.

PEREIRA, A. B.; PUTZKE, J. 2010. Dicionário brasileiro de botânica. Curitiba/PR. Editora CRV. 437 p.

ROMANIUC NETO, S.; GAGLIOTI, A. L.; GUIDO, B. M. O. 2009. Urticaceae Juss. do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, São Paulo, SP, Brasil. Hoehnea 36(1): 193-205. Acessado em 10/12/2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/hoehnea/v36n1/v36n1a12.pdf>

JOSÉ-CHAGAS, F. N.; VIANNA FILHO, M. D. M.; PESSÔA, L. M.; COSTA, S. S. 2013. Aspectos Químicos e Ecológicos de Espécimes Masculinos e Femininos de Cecropia Loefl. (Urticaceae) . Rev. Virtual Quim., 2014, 6 (2), 432-452. Data de publicação na Web: 29 de dezembro de 2013.

Consulta web: http://www.apremavi.org.br/cartilha-planejando. 10. A floresta primária e as florestas secundárias. Acesso em 28/Mar/2016.